Para os católicos, é um período de penitência; para os evangélicos, o foco está na Páscoa. Entenda os motivos
Por Cristiano Stefenoni
Assim que termina o Carnaval, na Quarta-Feira de Cinzas, começa a Quaresma, um período de 40 dias de preparação para a Páscoa, que se encerra no Domingo de Ramos, marcando o início da chamada Semana Santa. Para os católicos, é um período de penitência, orações, jejum e abstinência. Mas por que esse período não é celebrado pela igreja evangélica, enquanto a Páscoa é?
A prática da Quaresma é antiga, remontando ao século IV. O termo vem do latim quadragesima dies, que significa “quadragésimo dia”. Esse número se baseia em eventos bíblicos que duraram 40 dias, como o período em que Moisés permaneceu no Monte Sinai para receber a Lei de Deus, os 40 anos de peregrinação do povo de Israel no deserto antes de entrar na Terra Prometida e os 40 dias em que Jesus jejuou no deserto.
Embora não seja uma prática comum na maioria das igrejas cristãs, algumas denominações protestantes observam a Quaresma. “A Quarta-Feira de Cinzas marca o início da Quaresma, um período de 40 dias que antecede a celebração da Páscoa. Nas igrejas protestantes históricas – aquelas mais ligadas à Reforma, como a Anglicana e a Luterana – a tradição litúrgica é mais seguida, à semelhança do que ocorre no catolicismo”, explica o pastor Josué Ebenézer de Sousa Soares, da Comunidade Batista Atos 2, de Nova Friburgo (RJ).
Segundo ele, os evangélicos sempre foram mais avessos à liturgia. Além disso, há uma questão teológica por trás da não observância da Quaresma. “Não seguir a Quaresma é uma questão histórica, mas também teológica. Por se tratar de um movimento mais recente, o evangelicalismo não teve tempo nem interesse em desenvolver liturgias mais aprofundadas e elaboradas”, afirma Soares, que complementa:
“Outro ponto é a questão teológica. O catolicismo é sacramental. O evangelicalismo segue as boas-novas do Evangelho e busca o novo nascimento, seguido de uma vida de santificação. Assim, os valores cristãos, o cumprimento dos mandamentos bíblicos e a comunhão com Deus são práticas cotidianas, e não apenas abordagens litúrgicas específicas.”
O pastor lembra, ainda, que até os anos 1970 a celebração da Páscoa era pouco expressiva no meio evangélico. “Havia o entendimento de que a Páscoa – inaugurada com o êxodo do Egito – era uma festa estritamente judaica, comemorativa da libertação do povo judeu do cativeiro egípcio, equivalente ao nosso 7 de Setembro. Ou seja, a Páscoa seria uma data nacional dos judeus e não dizia respeito aos cristãos”, explica.
Páscoa no calendário das celebrações evangélicas
A partir dos anos 1970, houve uma maior distinção do tema, compreendendo-se que existia uma Páscoa cristã que merecia e devia ser comemorada. “A Páscoa cristã celebra a ressurreição de Cristo. É uma data em que os evangélicos se voltam para a celebração da vitória sobre a morte, estabelecida por Jesus Cristo na cruz e no túmulo vazio. A cruz evangélica não é um crucifixo. É uma cruz sem Cristo morto. A cruz ficou vazia, e o túmulo também”, explica o pastor.
De acordo com Josué Ebenézer, a celebração da Páscoa entre os evangélicos se diferencia da católica exatamente pelos propósitos. “Nossa celebração de Páscoa é uma comemoração de vitória, alegria e esperança. João, o apóstolo amado, fala de uma tríplice esperança do cristão: Jesus vai voltar, os salvos o verão e seremos tornados semelhantes a Ele (1Jo 3.1-3)”, afirma.
A forma mais comum de celebração da Páscoa entre as grandes igrejas evangélicas é a realização de cantatas com coros bem ensaiados e produções cenográficas elaboradas, algumas incluindo teatro. “Outras formas incluem cultos na madrugada do domingo, para simbolizar o momento da ressurreição, celebração de ceia especial com encenação da última Páscoa, conforme celebrada por Jesus no cenáculo, entre outras práticas”, conclui.
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