Você já ouviu alguém que fuma maconha dizer: “não prejudico ninguém. Se faço mal, é só a mim mesmo”? Claro, a pessoa sabe que está falando besteira, mas não perde a oportunidade de tentar se justificar – quando, na verdade, está tentando aliviar um pouco a consciência ou não liga a mínima para o próximo mesmo, mas não admite.
Essa hipocrisia é só um exemplo, mas ilustra bem a questão. O usuário compra maconha – que é proibida por lei por motivos bem óbvios que muitos teimam em negar em seu egoísmo hipócrita –, o que alimenta o tráfico, que, por sua vez, aumenta a violência social e, depois, impacta a qualidade de vida do próprio usuário (e de todas as outras pessoas, claro, mesmo que nunca tenham nem visto a droga na vida).
Famílias e mais famílias são destruídas por causa de entes queridos viciados. Muitos deles roubam, furtam e até matam para conseguir dinheiro para manter o vício. Mais traficantes na rua significa mais drogas, mais oferta delas, maior probabilidade de um filho seu cair no vício e mais famílias sofrendo por algo tão absurdo.
As cidades brasileiras são muito mais violentas por causa das drogas, enquanto os hipócritas metidos a justiceiros sociais defendem a liberação, fingindo que acreditam que justificar o crime fará a violência acabar. Se a moda pega, logo terão que liberar outros crimes. É andar para trás na evolução da sociedade. Já está mais do que provado que, com o vício em geral, a avassaladora maioria sai perdendo para uns poucos lucrarem com a desgraça alheia.
Da mesma forma, muitos já viram alguém que se acha “esperto” porque comprou “mais barato” um produto proveniente de cargas roubadas. Será que é tão barato mesmo? O preço é esse: se alguém vende é porque alguém compra e esse comprador alimenta mais crimes para roubar cargas, o que custa, muitas vezes, vidas. Não são raros os caminhoneiros mortos ou seriamente feridos pelo roubo de cargas.
Também há os “inteligentes” que compram produtos pirateados. E haja material vagabundo disponível com a desculpa de que é mais barato. Cada vez mais indústrias nacionais fecham (e empregos deixam de existir) por causa da concorrência de preços desleal de quem contrabandeia, não paga impostos e muitas vezes comete crimes pesados para que o contrabando chegue às ruas. De novo, todo mundo sai perdendo, apesar de alguns acharem que economizaram alguns reais.
Se todos os que se acham “espertos” na hora de levar vantagem bem ao estilo do “jeitinho brasileiro” usassem a consciência para entender que seu ato, mesmo pequeno, faz parte de uma cadeia enorme que prejudica a todos, num círculo vicioso dos piores, todos sairiam ganhando – e, mesmo no nível individual, essa cadeia deixaria de se voltar contra a própria pessoa que evitou o “jeitinho”.
É a versão na prática do velho ditado “quem com ferro fere com ferro será ferido”.
Muitos até usam esse provérbio sem pensar que ele mesmo desfere o golpe que levará mais tarde. Mas, como quase sempre acontece, só pensam na vantagem daquele momento e, tipicamente sendo brasileiro, não pensam no próximo. E, não pensando no próximo, acabam por afetar a si mesmo. Mas é mais fácil não pensar nisso e continuar a se achar “esperto”.
Estamos em um período de eleições. Em vez de pensar apenas se este ou aquele candidato é honesto, que tal pensar também em seu próprio compromisso como cidadão? Em sociedade, o pensamento deve ser coletivo, mas às vezes a pessoa critica o ato de outra que fez algo corruptível, mas, por se tratar de uma “cadeia” social, o que acontecerá quando chegar a vez dessa pessoa, como ela vai agir?
De que vale acusar alguém de corrupto, mas, na vida pessoal, achar que está tudo bem não devolver aquele troco dado a mais por engano, dar um “faz-me rir” para que o garçom o tire da fila do restaurante e fazer “gato” de energia, água ou TV por assinatura?
Todo ato errado cobra um preço alto para todos, inclusive de quem o cometeu na hora em que a lei do retorno fizer seu efeito. Aí não adianta culpar tudo e todos por algo que você mesmo começou.
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